Esse é o chamado Princípio da Pausa intencional e reflexiva, defendido por Kevin Cashman
Em um contexto de intermináveis demandas, a tendência é pensarmos que agir sem perder tempo é a melhor alternativa para darmos conta do que precisa ser feito. Contudo, convidamos a rever esse impulso. Afinal, pausas costumam ser essenciais para a inovação, principalmente aquelas voltadas à reflexão sobre as demandas que temos e o que pode e precisa ser feito em relação a elas.
Quem fala sobre o tema é o autor e sócio sênior da consultoria global Korn Ferry, Kevin Cashman, no livro “O Princípio da Pausa”. Ele explica que o Princípio da Pausa é o ‘processo consciente e intencional de dar um passo para trás, para dentro de nós e para fora de nós mesmos,’ criando espaço para a reflexão e exploração, ‘para, então, liderar e avançar com maior autenticidade, propósito e contribuição’. É como uma caminhada quando precisamos resolver um desafio: ao nos distanciarmos dele, conseguimos observá-lo de forma diferente e encontrar soluções. Paradoxalmente, a pausa potencializa a performance intencional e empenhada.
Embora o princípio seja válido para qualquer pessoa, em qualquer atividade, ele é especialmente relevante para aqueles que estão em uma posição de liderança. Fazer das pausas reflexivas um hábito pode significar sair de uma gestão reativa e transacional, que se ocupa de tarefas de baixa complexidade, para uma liderança significativa, inovadora e transformadora, com foco em realidades ambíguas, desafiadoras e multidimensionais, o que faz crescer a organização e as pessoas que a integram – ainda mais em tempos como o nosso, complexo e cheio de incertezas.
Estas paradas, pausas intencionais, impactam a organização em três níveis diferentes: fortalecem as habilidades da liderança pessoal e individual de cada líder; contribuem para o desenvolvimento das outras pessoas da equipe e/ou organização; e, em um processo expansivo, ampliam o escopo para a própria organização, criando uma cultura de inovação. Tudo isso ainda pode se refletir em impacto para o ecossistema no qual a organização está inserida e também para o mundo.
Todas as pausas são iguais?
Embora tenham o propósito de promover a reflexão, as pausas de que fala Cashman podem ter focos mais específicos.
Aquelas voltadas à análise de um novo caminho ou solução para algo que não está funcionando são chamadas de backwards pauses, pausas de recuo.
Quando visam restaurar o sentido e o propósito de uma equipe, de um projeto ou de uma organização, podem ser chamadas de mission pauses, pausas de missão.
Há ainda as forward pauses, pausas para a frente, com um olhar para o futuro, para pensar sonhos e aspirações, imaginando maiores ou novas possibilidades.
Diferenciamos também a pausa reflexiva da pausa restaurativa, dedicada ao descanso, sem um objetivo específico. Ambos os tipos são necessários e complementares. A primeira é aquela que vai permitir que olhemos ao nosso redor e observemos com atenção e discernimento. Consciente e estratégica, ela tem o objetivo de gerar reflexão, autoconhecimento e inspiração, abrindo espaço para novos caminhos, soluções e possibilidades.
O descanso, por sua vez, visa a recuperação de forças e bem-estar. Por isso, seja por meio de momentos de ócio puro ou de atividades de lazer, ele ajuda a baixar nosso nível de adrenalina, restaurando a atenção e a motivação para que possamos “voltar à ação” com ótimo desempenho e sem comprometer nossa boa forma mental e resiliência.
Para terem efeito, as pausas reflexivas devem ser rotineiras e de alguma forma planejadas, caso contrário o “modo automático, reativo e puramente operacional” tende a se instalar e ocupar o espaço da agenda. Nesse sentido, o primeiro desafio a ser superado é uma resistência interna a parar as tarefas do dia a dia para se dedicar à reflexão, afinal, não estamos acostumados a associar pausas a trabalho. Ou seja, passar a olhar as pausas reflexivas como parte das atividades profissionais e, para líderes, as mais importantes.
As pausas podem, justamente, ampliar a produtividade, já que contribuem para a resolução de problemas e tornam a execução das atividades mais eficaz. E também permitem alinhamento com o que é importante, com o propósito e ainda para pensar o futuro.
Em seguida, vem a prática. Não há uma frequência ideal para a realização de pausas, mas uma boa alternativa pode ser incluir intervalos mais pequenos no dia a dia e pausas mais longas a cada dez ou quinze dias. Quando uma atividade ou demanda complexa surgir, novas pausas, às vezes mais longas, podem ser então introduzidas.
A linguagem das pausas
As perguntas e o questionamento dão o maior poder às pausas. Só que muitas vezes nós mesmos podemos considerar as perguntas como uma fraqueza: “por que perguntar se temos todas as respostas, certo?”. Por outro lado, o que aconteceria se tivéssemos as melhores perguntas para envolver outros, a nós mesmos e quem sabe a organização em uma descoberta? ‘Perguntar é, talvez, a pausa mais poderosa de todas’, é a arte de buscar novas leituras, novas possibilidades e novas conexões. Sendo assim, ‘a pausa é a prática pragmática de questionamento profundo e reflexivo, levando a mudanças com propósito.’
Um ponto adicional é que as pausas não devem ser exclusividade do líder. Ao introduzir conscientemente esse espaço, ele ou ela dá exemplo para a sua equipe, como modelo de líder que integra as polaridades da gestão do dia a dia operacional e transacional, com as questões complexas e estratégicas, transformativas da sustentabilidade do negócio, associadas ao seu propósito. Inclusive, para se desenvolver, individualmente e coletivamente, é preciso dar espaço, refletir e criar um ambiente colaborativo de reflexão, experimentação e aprendizagem. Assim, todos evoluem, exploram o seu potencial e contribuem para a cocriação de maior valor, para e com todos os stakeholders internos e externos da organização
O convite que fica é: Seja conscientemente reflexivo antes de agir!
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