Excessos podem ser interpretados como agressividade ou submissão e abalar a qualidade das relações interpessoais
Todos já nos deparamos com um chefe ou colega de trabalho inflexível e controlador, que se comporta de forma mais hostil, exige demasiado dos outros e quer sempre ser obedecido, e nunca questionado. Da mesma forma, encontramos profissionais que agem de modo mais passivo, evitam conflitos e têm compaixão ou sensibilidade em demasia por outras pessoas. Estes são exemplos de firmeza e empatia excessivas, ou seja, em desequilíbrio, o que impacta o indivíduo e suas relações, e, principalmente se ocupar posição de chefia, a sua eficácia da sua gestão e liderança.
Mas que impactos são esses e como estabelecer o equilíbrio?
Antes de responder essas perguntas, é preciso esclarecer que firmeza e empatia são características complementares que se manifestam na forma como nos relacionamos, ou seja, na nossa comunicação.
Líderes excessivamente firmes também podem ser percebidos como agressivos e fortes, enquanto os muito empáticos podem ser vistos como gentis e, por vezes, fracos ou desinteressados. Embora nenhum dos atributos seja totalmente negativo, ambos comprometem a confiança e fluidez das relações, tão necessária para o bom funcionamento de uma equipe.
Firmeza x empatia
A firmeza, por exemplo, relacionada a um modelo tradicional de que o chefe é aquele que se impõe, garante ao líder que as suas necessidades e ordens serão atendidas – e à sua maneira. Isso porque acarreta maior controle e submissão por parte de sua equipe.
Por um lado, pode haver uma impressão de capacidade e eficiência, que pode repercutir na carreira desta pessoa e levar à sua evolução. Por outro lado, a agressividade constante deixa a equipe e outros colegas em modo de defesa e cria relações fracas, pois são baseadas no medo, e não no respeito; e, no médio e longo prazo, a eficácia desta pessoa pode ser posta em xeque, fora o provável turnover elevado de pessoas.
A empatia, por sua vez, está relacionada a um entendimento mais atual de que as relações de trabalho também devem se basear na compreensão mútua entre os integrantes da equipe. É preciso perceber como o colega funciona, como ele pensa e está se sentindo nas suas circunstâncias, quais as suas necessidades e reais inspirações.
Embora seja necessária, em excesso ela se transforma em submissão ou omissão, já que a pessoa passa a privilegiar as necessidades e aspirações do outro, em detrimento das suas, e a ser passiva para evitar estresse e conflitos. Ao mesmo tempo, não desafia os colaboradores, nem os incentiva a crescer, gerando, também, relações insatisfatórias e desconfiança no médio e longo prazo, fora os resultados que podem ficar em risco.
Equilíbrio resulta em assertividade
A saída, então, é o caminho do meio, adaptado a cada situação, que mistura firmeza e empatia, levando à assertividade. Ela se baseia no triângulo “ouvir-perguntar-falar”, que permite o estabelecimento de relações de confiança, e sempre leva em consideração o que precisa ser comunicado e discutido, por que é importante e como a conversa deve ser conduzida.
O líder assertivo é aquele que consegue demonstrar que se preocupa genuinamente com o colaborador e que acredita nele, e por isso mesmo consegue desafiá-lo, inclusive em conversas difíceis. É aquele que defende sua visão, não isolado, sabe escutar os outros e busca impactá-los – e também a própria sociedade – de maneira construtiva. Também é o que busca incentivar a assertividade e comunicação direta e empática daqueles que estão ao seu redor.
Assim como no caso do desequilíbrio para qualquer um dos lados, a assertividade tem pontos menos positivos, como o desconforto associado a ser sincero, abordar situações desconfortáveis, expor suas vulnerabilidades, o risco de não controlar a reação das outras pessoas. No médio e longo prazo, porém, estes desconfortos são compensados pelas relações mais satisfatórias e duradouras, pela valorização pessoal (própria e mútua) e pelo respeito que esse tipo de comportamento traz, além de melhores resultados e performance sustentada.
Para chegar ao equilíbrio e à assertividade, é preciso começar por buscar o autoconhecimento e a autopercepção. É a partir dessa consciência expandida que cada uma das pessoas vai poder entender o que a move, quais as suas preferências e estilo de comunicação, quais os seus gatilhos – situações, contextos ou pessoas – e o impacto que tem sobre os outros. A partir disso, o indivíduo deve ativamente buscar gerenciar os padrões de comunicação, que emergem naturalmente para si e que interferem na assertividade, preparando-se para as situações que podem torná-lo excessivamente firme ou agressivo. O foco é estabelecer uma comunicação eficaz e empática, que contribui para um ambiente de confiança, permite a troca de ideias e opiniões, maior criatividade, maior responsabilização e relacionamentos saudáveis e respeitosos.
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