Elas são capazes de alterar o rumo de uma conversa e até influenciam na produtividade e desenvolvimento
Uma habilidade comum e utilizada de forma criativa na primeira infância, quando se descobre o mundo, é o ato de fazer perguntas. Trata-se de uma ação simples, mas com grande poder para auxiliar no desenvolvimento ao longo de toda a vida, seja no âmbito profissional ou pessoal.
Mas por que, então, desaprendemos a perguntar? Porque, já nos primeiros anos da vida escolar, a pergunta pode ser vista como uma demonstração de “não saber” e não como uma intervenção positiva ou como algo que agrega valor. Afinal, somos estimulados a trazer respostas e soluções, a acertar sempre e não a questionar.
Além disso, fazer perguntas é difícil, exige que estejamos presentes e atentos ao que acontece à nossa volta. É preciso mais consciência, escuta ativa, empatia e leitura do ambiente ao redor. Perguntar também pode ser visto com viés negativo, como se a pessoa fizesse uma investigação ou “inquérito”. Outro ponto a ser considerado é que, se desistimos das perguntas, o diálogo parece ficar bem mais simples, já que tendemos a falar apenas o que pensamos, sem nos preocuparmos em entender o outro e a situação, focando no nosso “eu” e nas nossas necessidades.
Na verdade, porém, fazer perguntas auxilia na conexão com a outra pessoa e seu contexto, no desenvolvimento dela, na busca de novas soluções e possibilidades e ainda traz mais engajamento. É uma peça essencial do triângulo da comunicação, que também envolve falar – para compartilhar pontos de vista, opiniões e explicações, dar feedbacks e fazer alinhamentos – e escutar – o que gera conexão entre perguntas e respostas e ajuda no desenvolvimento da melhor intervenção em cada circunstância.
Nas organizações, apoiar os colaboradores a desenvolver seus processos mentais e recursos internos, ter espírito crítico, analisar acontecimentos e pensar por si mesmos são alguns dos objetivos do líder que entende o poder da pergunta. A ideia é que a outra pessoa “trabalhe” sua consciência, reflita e encontre o melhor caminho para a resolução de problemas.
O ato de fazer perguntas claras e focadas também é muito praticado no coaching. Elas podem, por exemplo, ser perguntas de contextualização, para aumentar o autoconhecimento e entender o contexto/situação atual da pessoa ou equipe, seus objetivos, necessidades e prioridades; de solução, para analisar possibilidades que podem ser adotadas durante o processo, bem como seus prós e contras; e de execução, para compreender o passo a passo, como as coisas serão feitas, quais recursos serão utilizados e como será realizado o monitoramento dos resultados.
Esse é um processo sistemático e intencional de exploração e investigação, com muita escuta ativa por parte da coach, que também busca estar sempre atenta às respostas para desenvolver seu raciocínio e elaborar as próximas perguntas. Afinal, uma pergunta está alinhada à resposta anterior. Outro ponto importante é que a questão que libera o potencial em uma pessoa pode não surtir efeito em outra: cada caso é um caso e precisa ser tratado de forma individual.
Como fazer perguntas poderosas?
Apesar da aparente simplicidade, perguntar de forma inteligente não é tão fácil assim! É importante, em primeiro lugar, que as perguntas não sejam direcionadoras, ou seja, elas devem ser neutras e levar o outro à descoberta, à reflexão e ao desenvolvimento de ideias. As perguntas mais poderosas são também abertas, ou seja, a resposta não é ‘sim’ ou ‘não’. Tipicamente são perguntas que começam com pronomes interrogativos: ‘o que’, ‘como’, ‘quando’, ‘quem’, ‘quanto’, entre outros.
Uma boa dica inicial para estimular essa prática é ter clareza sobre o objetivo da conversa. Assim, é possível compreender o que se quer descobrir a partir das perguntas, o que torna o processo mais fácil. Depois, deve-se levar em conta alguns insights importantes:
– Faça uma lista prévia de possíveis perguntas, mas lembre-se de escutar ativamente e desenvolver a conversa conforme as respostas da outra pessoa, a fim de criar um fluxo que faça sentido para ambos.
– Deixe a pessoa ter pausas para refletir antes de dar a resposta, o que pode levar segundos ou até minutos. Aprenda a conviver com o silêncio e mesmo usá-lo como ferramenta adicional de comunicação.
– Perceba quando o seu diálogo interno se torna mais alto do que a conversa externa e gerencie isso para estar presente.
– Preste atenção às reações físicas e emocionais da pessoa e às suas, pois isso também faz parte do diálogo. Em conversas mais tensas, a linguagem não verbal e a voz trazem, por vezes, mais informação que as palavras faladas.
– Evite perguntas com adjetivos ou julgamentos: busque uma linguagem neutra.
– Lembre-se que perguntas abertas referidas atrás, que começam com pronomes interrogativos, que focam em possibilidades e no futuro, que tenham viés exploratório e que sejam desafiadoras positivamente são boas opções para estimular a reflexão e novas soluções.
– Lembre-se que a pergunta, dando voz aos diversos membros de uma equipe, permite ter uma visão mais completa, com mais possibilidades e soluções mais eficazes, e criar um sentimento de participação e inclusão.
Nas organizações, é importante lembrar, ainda, que é papel da liderança explicar e modelar a importância das perguntas, convidando à prática e abrindo espaços para debates construtivos em busca de soluções. Para isso, é preciso que a liderança também desenvolva a habilidade e crie um ambiente de segurança psicológica, em que a equipe se sinta confortável para fazer questionamentos de forma construtiva.
Igualmente no seio das famílias e circuito social de amizades, as perguntas podem ser a chave que abre a construção de relacionamentos saudáveis, desenvolvimento de filhos e filhas e evolução familiar.
Dedique-se a desenvolver a arte de fazer perguntas!